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Sistema de Informação em Saúde Pública 101

No cenário da saúde pública atual, um Sistema de Informação em Saúde (SIS) robusto e eficaz é ncontestável. Um SIS corresponde a uma abordagem abrangente de coleta, processamento, reporte e utilização de dados de saúde e conhecimento para influenciar políticas, programas e na investigação [1].


Este SIS pode ser baseado em papel ou computadores. Enquanto o papel tem como vantagens os baixos custos de implementação, familiaridade, facilidade de alteração, os sistemas baseados em computadores têm outros benefícios. Eles promovem o armazenamento de dados mais eficiente, cópias de segurança e controlo de versões, e layouts mais consistes que promovem uma análise de dados mais fácil.


Existem diferentes tipos de sistemas de informação baseados em computadores. Estes podem variar desde simples filhas de MS Excel até complexas infraestruturas de computação cloud.


Gostaria de enfatizar que há espaço para sistemas baseados em papel, como é caso nos blocos operatórios, unidades de cuidados intensivos ou um relatório para dirigentes políticos. Por isso, nem sempre a escolha de tecnologia é óbvia.


A seleção acertada de tecnologia é essencial e deve contemplar, no mínimo, os seguintes critérios: escalabilidade, segurança, compatibilidade e integração, custos de desenvolvimento e operação, além de sustentabilidade. Destaco a escalabilidade, pois, embora seja viável tolerar a execução anual de um processo ineficiente, a execução diária afeta negativamente as operações correntes num serviço, e isto é um cenário indesejado. Frequentemente subestimamos os custos de manutenção de um SIS, o que é um erro crítico, visto que muitos sistemas são interdependentes. Por exemplo, uma simples mudança de um vocabulário de diagnóstico de doença pode afetar múltiplos sistemas, exigindo intervenções nos restantes sistemas de informação. Por último, a sustentabilidade merece destaque, considerando que muitos processos precisam de recursos computacionais significativos e, consequentemente, um elevado consumo de energia. Nesse sentido, é crucial ponderar sobre a frequência de atualização dos dados. Questiona-se, por exemplo, se a atualização a cada minuto de um dashboard resulta numa alteração de uma intervenção de saúde pública.





Destacar o uso inadequado do MS Excel pela equipa Williams F1 para gerir inventários a qual é conhecida pelos seus problemas na produção dos seus monolugares [2]. Enfatizando que a eficácia de um SIS está intrinsecamente ligada à sua adequação ao propósito pretendido. Gostaria de ter mais um exemplo de utilização de MS Excel inadequada, mas não me ocorre.


Por fim, gostaria de destacar que um SIS não é um objetivo em si, mas sim uma ferramenta para atingir objetivos específicos, como alcançar maior efetividade nas intervenções de saúde pública. Para isso, é fundamental identificar primeiro quais as manivelas e manípulos que estão disponíveis e depois qual a informação necessária para os acionar.


Vejamos um SIS baseado em computadores que monitoriza semanalmente a cobertura vacinal nas instituições de ensino em Portugal Continental. A capacidade de fornecer dados precisos e atuais fundamentaria intervenções para melhorar a cobertura vacinal. Contudo, a implementação de tal sistema enfrenta desafios significativos, incluindo a ligação de dados entre dos dados dos estudantes e os dados dos vacinados, dados relacionados com a organização dos agrupamentos escolares, bem como das escolas privadas. Estes dados escolares teriam de compreender a composição das turmas que idealmente seria dinâmica de forma a acomodar a alteração da composição das turmas ao longo do ano letivo. Portanto assim, demonstra com um problema que inicialmente parecia tecnológico, transforma-se num problema de gestão da informação.


Desta forma, a participação ativa na evolução dos sistemas de informação é mais do que uma oportunidade; é uma responsabilidade nossa. Encorajo a vossa participação nos grupos de trabalho da ANMSP. Ao fazê-lo, para além de avançarmos na padronização de práticas baseadas em evidências, também fortalecemos a nossa contribuição coletiva para um futuro mais saudável.


Mantenham-se curiosos,



Pedro Casaca Carvalho

Médico de Saúde Pública

Escola Nacional de Saúde Pública,

Universidade NOVA de Lisboa



Referências

  1. Branko Jakovljevíc. Health Information SystemHealth information system. In Wilhelm Kirch, editor, Encyclopedia of Public Health, pages 603–607. Springer Netherlands, Dordrecht, 2008.


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