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Infeções Sexualmente Transmissíveis: desafios atuais e a urgência de uma resposta integrada em Saúde Pública

As infeções sexualmente transmissíveis (IST) são uma preocupação de saúde pública devido às suas repercussões na saúde sexual e reprodutiva, riscos de infertilidade, cancro e dor crónica, afetando sobretudo jovens. Em 2022, verificou-se um aumento expressivo nas IST na Europa: 48% para gonorreia, 34% para sífilis e 16% para clamídia. Por exemplo, a sífilis registou uma subida de 25% em 14 países, incluindo Portugal, onde a incidência foi superior à média europeia. 


Este cenário evidencia a necessidade de reformular as estratégias de prevenção. A acessibilidade universal a cuidados de saúde sexual é crucial, com ênfase no aconselhamento eficaz e na promoção de comportamentos sexuais seguros. A comunicação deve ser aberta e livre  de preconceitos, ajustada às práticas sexuais dos utentes. As redes sociais, embora úteis, também propagam desinformação, exigindo monitorização proactiva das autoridades de saúde para divulgar informações corretas.


O desenvolvimento de vacinas contra IST pode ser uma ferramenta importante. O Reino Unido já considera a vacinação contra o serogrupo B de Neisseria meningitidis custo-efetiva para o controlo da gonorreia, enquanto vacinas contra a clamídia estão em fase de investigação. Para além da prevenção primária, é fundamental garantir a disponibilidade de testes rápidos, acessíveis e eficazes, bem como expandir os locais de testagem. Testes oportunistas, como os realizados noutros países, mostraram algum sucesso fora de serviços de saúde convencionais.


Em Portugal, análises para clamídia e gonorreia foram introduzidas no setor convencionado. O rastreio trimestral de IST na profilaxia pré-exposição (PrEP) tem aumentado a detecção de infeções assintomáticas. No entanto, a PrEP tem sido associada ao aumento de comportamentos de risco e resistência antimicrobiana, destacando a necessidade de novas abordagens, como o uso de antibióticos em fase de ensaio ou a introdução da doxyPEP, medida que se mostrou eficaz na prevenção da gonorreia, clamídia e sífilis em populações vulneráveis nos Estados Unidos.


São necessários relatórios nacionais abrangentes que sustentem uma abordagem integrada e multissetorial, capaz de superar barreiras estruturais, sociais e políticas. O plano nacional sueco contra a clamídia é um exemplo de uma resposta eficaz e estruturada.



Estas são algumas das considerações de um artigo recentemente publicado na Acta Médica. Foquemos agora uma das estratégias essenciais na resposta às IST: a notificação de parceiros sexuais, garantindo o seu rastreio e controlo das cadeias de transmissão.


Recentemente em Portugal ocorreu uma polémica sobretudo à custa de ruído comunicacional.. À imagem de qualquer outra doença de notificação obrigatória, os profissionais de saúde pública estão sujeitos às mesmas obrigações éticas e legais de confidencialidade que o clínico que atende o paciente. A partilha de dados entre o clínico e os profissionais de saúde pública é feita através de um sistema seguro, e as informações são limitadas ao estritamente necessário para garantir o seguimento apropriado. A anonimização selectiva das IST para os profissionais de saúde pública do nível local face a todas as outras é também uma forma de discriminação adicional para as populações afetadas, e um acréscimo de dificuldade no controlo de cadeias de transmissão, com impactos diversos, dadas as realidades díspares de centros urbanos de maior densidade populacional e restante país.


Adicionalmente, ao não ser do conhecimento do profissional de saúde pública, o ónus do rastreio e seguimento fica nas mãos do clínico notificador, que representa carga adicional de trabalho em contextos maioritariamente já de si complicados em termos de disponibilidade. A outra face da questão é a necessidade prévia de revisitar as especificidades na abordagem dos respectivos inquéritos epidemiológicos destas doenças por parte dos profissionais de saúde pública, para que o equilíbrio custo-benefício da intervenção seja favorável e não tenha consequências indesejáveis. Estas especificidades podem e devem incluir a calibração das colaborações com associações e instituições que tenham como missão a defesa das populações vulneráveis, para que o acesso a cuidados e o devido tratamento sejam também assegurados.


Face ao aumento das IST, é imperativo garantir um acesso universal e gratuito a cuidados de saúde sexual, numa abordagem comunitária e livre de estigma, promovendo uma intervenção coordenada e adaptada às necessidades da população, que inclua também o devido aproveitamento e responsabilização dos profissionais de saúde pública, na plena extensão da tríade da promoção de saúde, prevenção da doença e proteção da saúde.






Bernardo Gomes

Médico Especialista em Saúde Pública

ULS de Entre Douro e Vouga

Presidente da Direção da ANMSP


CONTACTOS

Av. Almirante Gago Coutinho, 151

1749-084 Lisboa

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